Os arqueólogos estudam sociedades do passado a partir dos vestígios que se preservaram, ao longo dos tempos. Este é um trabalho que incide sobre a acção dos homens nas paisagens que foram sendo transformadas. Os vestígios que procuramos contam sempre uma história que culmina no presente. Investigar esse percurso e compreender a sua formulação ajuda a entender o presente e que papel representamos no nosso tempo.
Na pequena Igreja da Ota estão enterrados vestígios importantes para o processo de conhecimento desta comunidade. O trabalho realizado, eminentemente de diagnóstico, permitiu confirmar o potencial patrimonial e científico dos contextos arqueológicos presentes. Parte deles, refere-se ao edifício, à sua fundação e evolução; a continuação dos trabalhos poderá clarificar a que época específica remonta a actual Igreja, sendo de considerar a hipótese de ter uma origem anterior ao século XVI, período a que remontam determinados elementos arquitectónicos visíveis. Outros contextos, relacionam-se com a utilização do seu interior como cemitério da comunidade; com o passar do tempo, após a proibição de sepultar no interior das ingrejas ocorrida no século XIX, foi-se esbatendo a noção da sua relevância como espaço de memória dos antepassados.
Os trabalhos arqueológicos realizados permitiram, para além da reabilitação da memória do significado deste espaço, demonstrar que a partir do seu estudo poderemos:
- conhecer melhor este espaço sagrado que foi sendo arquitectado ao longo do tempo;
- conhecer de forma detalhada os rituais funerários da comunidade ao longo dos séculos; não esquecer que o tratamento dos mortos reflecte a mentalidade dos vivos;
- conhecer como se viveu na Ota ao longo dos séculos; que problemas de saúde afligiam as populações? que doenças tiveram? de que morreram? como era a sua alimentação? como era a sua qualidade de vida?
A Arqueologia, ajuda a contar a história de uma comunidade; os documentos escritos são mais raros e normalmente selectivos reflectindo a vivência de grupos priviligiados que os redigiram; os restos que a terra esconde são, normalmente, mais democráticos porque mais abrangentes (neste caso, quem seria sepultado aqui?). Cruzar fontes históricas e fontes arqueológicas é fundamental para aprofundar a investigação que se poderá realizar a partir dos trabalhos realizados.
1 comentário:
Obrigado Dr. Miguel Lago,
antes de mais, pela sua participação no blogue o que vem enriquecer este espaço de informação. Obrigado também por esta sua excelente explicação sobre a utilidade das pesquisas arqueológicas.
Padre Manuel Silva
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